22.10.07

A França

ilustração-homenagem de Cleto Campos

os anjos hedonistas estão sendo chamados de volta à casa.
senão assim, como explicar essa revoada de poetas indo embora da terra?
flô, erickson, chico, frança...
quererá essa partida nos dizer algo sobre a impossibilidade de vida nesse planetinha?
doentes, não se pouparam, muito menos nos pouparam.
continuaram a brilhar até que a luz se apagasse.
vinicius dizia algo que lobão gravou depois:
é melhor viver dez anos a mil que mil anos a dez!
será?
enquanto frança dizia:
a hora de partir não coincide com o horário do trem.

feito de energia, seu gestual contradizia o óbvio, o cotidiano.
frança era dança, sempre teatral, muito próprio de si.
seu recitar levava à música, próximo do mantra.
pense, pense, pense...
o poema de angelo bueno foi imortalizado nas apresentações de frança, que levava a platéia a cantar:
pense, pense, pense...

ontem, na missa, walmir jordão recitou isadora.
frança não recitava isadora.
ele cantava:

Vaitimbora
Isadora
Vaitimbora
Tu é mulé de Xangô
- Mulé de Xangô
Foi um dia um dia foi
Ogum carregou
Num carro de boi

Vai-te embora, Isadora
Não foi assim, não Senhora
Isadora vai-te embora
Vaitimbora Isadora

- Você me rejeita
você não me quer?
Olhalá sou mulé
De quem eu quiser

Isadora vaitimbora
Oxalá que te acompanhe
Isadora vem timbora
Oxalá que me perdõe
Aliás, não devo nada
Isadora vem timbora

walmir não soube cantar e ninguém nunca mais o fará como frança.
chorei com a tristeza de quem perde um ídolo, um rumo, uma referência.


minha primeira kusudama morou por muito tempo com o poeta-rei-negro.
era uma vênus bem colorida que os passarinhos vinham beijar.
na casa do poeta, até os pássaros se encantam...

há esperança:
hedonista que sou,
encontrá-los-ei todos!

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