4.12.13

Para dizer adeus a Sanae.


uma arte

a arte de perder não é nenhum mistério
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
perca um pouco a cada dia. aceite austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
a arte de perder não é nenhum mistério.
depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. nada disso é sério.
perdi o relógio de mamãe. ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
a arte de perder não é nenhum mistério.
perdi duas cidades lindas. um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
tenho saudade deles. mas não é nada sério.
mesmo perder você ( a voz, o ar etéreo, que eu amo)
não muda nada. pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser um mistério
por muito que pareça (escreve) muito sério.

[elizabeth bishop; tradução de paulo henriques brito]

Obrigada pela legenda na hora certa, Micheliny.

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